Show cover of Radio Futura

Radio Futura

Funk, Soul, Jazz, Latin, r&b, Brazil, rare groove, world music

Titres

Lucas Brêda RIO DE JANEIRO Eram os primeiros meses de 1970, e Cassiano desfilava seu "black power" reluzente por São Paulo quando conheceu outro cabeludo chamado Paulo Ricardo Botafogo, de aspecto e ideologia hippie, fã de Marvin Gaye como ele. Nos alto-falantes de uma lanchonete, o locutor da rádio anunciava a nova música de Tim Maia, que deixou seu novo amigo boquiaberto. Ao som de "Primavera (Vai Chuva)", a dupla pagou a conta, mas o dinheiro de Cassiano acabou. Ele estava sem lugar para dormir e pediu abrigo a Botafogo. Voltava de uma excursão, quando viu calças de homem no varal de sua mulher e não quis conversa. Também fez uma revelação. "Olha, essa música é minha, mas por favor não fale para ninguém." Dita como um pedido singelo, a frase se tornou uma maldição para Cassiano. Autor de sucessos na voz de Tim Maia e Ivete Sangalo, o paraibano fascinou músicos, virou "sample" e rima dos Racionais MCs e gravou discos até hoje cultuados. Mas morreu há quatro anos como um gênio esquecido —a dimensão de seu talento é um segredo guardado por quem conviveu e trabalhou com ele.  Reprodução de foto do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress Isso não quer dizer que Cassiano tenha sido um desconhecido. Bastião do movimento black e precursor do soul brasileiro, angariou uma legião de fãs, vem sendo redescoberto por novas gerações e acumula milhões de "plays" no streaming. Sua obra que veio ao mundo, no entanto, é só uma parcela do que produziu de maneira informal durante toda a vida —e que segue inédita até hoje. Cassiano, morto aos 78, deixou um disco de inéditas incompleto, gravado em 1978 e hoje em posse da Sony. Também tem gravações "demo" feitas nas décadas de 1980 e 1990 que há anos circulam entre fãs e amigos. Isso fora o que William Magalhães, líder da banda Black Rio, chama de "baú do tesouro" —as dezenas de fitas cassete com gravações caseiras nunca ouvidas. "Ele nunca parou. Só parou para o mundo", diz Magalhães, que herdou do pai, Oberdan, não só a banda que reativou nos anos 2000, mas a amizade e o respeito de Cassiano. "Todo dia ele tocava piano, passeava com gente simples, trocava ideia. Era tão puro que às vezes a gente duvidava da bondade dele." O tal baú, ele diz, contém "coisas que fizemos em estúdio, composições dele tocando em casa, ideias, tudo inédito". "E só coisa boa. Cassiano nunca fez nada ruim, musicalmente falando. Com ou sem banda, arrasava. A voz, o jeito de compor. Era uma genialidade ímpar." Acervo de Cassiano Esse material está na casa que Cassiano dividiu com a mulher, Cássia, e a filha, Clara, no fim da vida, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Há também registros escritos de memórias, recortes de revistas e jornais, filmagens de performances no palco e em casa, diversos instrumentos e até desenhos e colagens que ele costumava fazer. A viúva conta que o marido saía às vezes para o bar e para conversar na rua, mas "não era um homem de multidões". "Gostava de música e queria trabalhar o tempo todo, não era tanto de atividade social. Mas, se chamasse para o estúdio ou para o palco, esse era o grande sonho. Ele queria estar entre os músicos." Por volta de 2016, na reunião com o presidente da Sony, Paulo Junqueiro, para negociar o lançamento do disco de 1978, Cassiano estava mais interessado em apresentar o material mais novo que vinha criando. Não se opôs ao lançamento do álbum engavetado, mas suas prioridades eram diferentes daquelas da gravadora, e o papo esfriou. Descoberto antes desse encontro pelo produtor Rodrigo Gorky, hoje conhecido pelo trabalho com Pabllo Vittar, o disco chegou aos ouvidos de Junqueiro, fã declarado do cantor, que logo se interessou. Kassin, produtor que trabalhou na finalização póstuma do álbum "Racional 3", de Tim Maia, foi chamado para ajudar. No primeiro contato com as músicas, ele diz, sentiu que tinha "um negócio enorme na frente". O produtor conta que o trabalho que ele e Gorky fizeram foi apenas de "limpar e viabilizar", além de reorganizar e mixar as músicas, sem edições ou acréscimos. Em sua opinião, o álbum não precisa de muitos retoques para ser lançado. Segundo Junqueiro, ainda há o que ser feito. "Chamei Cassiano para ouvir, ele se lembrava de tudo, mas concordava que faltava muito. O que existe é uma pré-mixagem e, a partir dela, terminar o disco, caso a família queira finalizar. Na minha opinião, não está terminado. Mas, se a família achar que está terminado, tudo bem. Estamos tentando encontrar uma maneira de chegar lá." Um dos impeditivos para que o disco perdido de 1978 seja lançado é a falta de créditos aos músicos que participaram das gravações. Claudio Zoli, no entanto, lembra não só que gravou "backing vocals", mas sabe de vários dos instrumentistas envolvidos no disco. Tinha 14 anos e mal tocava violão, mas Cassiano vislumbrou um futuro para ele na música. "A gente se reunia numa casa lá em Jacarepaguá", diz Zoli. "Era aquele clima meio Novos Baianos, todo mundo dormindo lá, ensaiando. Nos reunimos para gravar esse disco da CBS, que não saiu, e o Cassiano fazia um ‘esquenta’ antes de entrar em estúdio. Ficava tocando violão, falando sobre harmonia." Há alguns registros desses momentos de "esquenta" e também de estúdio feitos por Paulo Ricardo Botafogo, que é fotógrafo. Ele acreditava, sem muita certeza, que eram imagens da gravação de "Cuban Soul", disco de Cassiano do qual fez a foto da capa, gravado há 50 anos. Mas é bastante improvável que Zoli, nascido em 1964, tivesse apenas 11 anos nas imagens. Produtor que trabalhou com Tim Maia e foi amigo de Cassiano, Carlos Lemos se mudou da Philips, hoje Universal, para a CBS, hoje Sony, na segunda metade dos anos 1970. Pelas fotos, ele diz ter certeza que as gravações aconteceram no estúdio Haway, que era alugado pela CBS. Ele também confirma as identidades dos músicos lembrados por Zoli. São eles os guitarristas Paulinho Roquette, Paulinho Guitarra, Beto Cajueiro e Paulo Zdan, além de Dom Charles no piano e Paulo César Barros no baixo. Quem também corrobora as lembranças de Zoli é Paulo Zdan, médico de Cassiano, de quem se tornou grande amigo e foi letrista do disco "Cuban Soul". Morto há um ano, ele deu uma entrevista a Christian Bernard, que preparava um documentário sobre Cassiano —o filme acabou não autorizado pela família. A reportagem ouviu uma pré-mixagem desse disco de 1978, que destaca a faceta mais suingada de Cassiano. É um registro coeso de 12 faixas, mais funk do que soul, com vocais simultâneos cheios de candura e um flerte com a música disco daquela época. Para Kassin, é um registro "mais pop". "Se tivesse saído na época, teria feito sucesso", ele diz. Junqueiro, da Sony, concorda que as faixas mantêm uma coerência, mas que não é possível saber se isso se manteria caso Cassiano continuasse o trabalho no álbum. "Não tem nenhuma música que eu imagino que o Cassiano não botaria no disco. Talvez ele colocasse mais músicas. É um disco mais para cima, mas para ser mais dançante faltam arranjos." Clara, filha de Cassiano, lembra que o pai não tinha boas memórias da época que fez esse disco. "Não sei o que ele estava sentindo, mas não era um momento feliz para ele", ela diz. "Ele já não se via mais tanto como aquele Cassiano de 1978. Mas hoje reconheço a importância de lançar. Acho que todo mundo merece, mesmo que ele não tenha ficado tão empolgado assim com a ideia."  Retrato do cantor Cassiano em 1998 As gravações foram pausadas depois que Cassiano teve tuberculose e passou por uma cirurgia para a retirada de uma parte do pulmão. Mas as pessoas ouvidas pela reportagem também relatam um hábito constante do artista —demorar para finalizar seus trabalhos, ao ponto de as gravadoras desistirem de bancar as horas de estúdio e os músicos caros, pondo os projetos na geladeira. Bernard, o documentarista, também afirma que foi logo após as gravações desse álbum da CBS que Cassiano rompeu com Paulo Zdan e ficou 40 anos sem falar com ele. "Zoli depois tocou na banda do Cassiano, no show ‘Cassiano Disco Club’. Mas na verdade não tocou. Só ensaiou e, como nunca faziam shows, ele e o Zdan saíram e montaram a banda Brylho." A década de 1980 marcou o período de maior dificuldade para Cassiano, que passou a gravar esporadicamente, parou de lançar álbuns e enfrentou dificuldades financeiras. Cassiano nasceu em Campina Grande, na Paraíba, e no fim dos anos 1940 se mudou para o Rio de Janeiro com o pai, que ganhava a vida como pedreiro e era também um seresteiro e amigo de Jackson do Pandeiro. O menino acompanhava, tocando cavaquinho desde pequeno. Conheceu Amaro na Rocinha, onde morava, e formou com ele e o irmão, conhecido como Camarão, o Bossa Trio, que deu origem à banda Os Diagonais. O forte do trio eram os vocais simultâneos. Chegaram a gravar até para Roberto Carlos. "Ele era um mestre em vocalização. Era impressionante, um talento", diz Jairo Pires, que foi produtor de diversos discos de Tim Maia e depois diretor de grandes gravadoras. "Foram pioneiros nessa música negra. Esse tipo de vocalização era muito moderna. Ele já tinha essa coisa no sangue. Por isso que o Tim amava o Cassiano." Não demorou até que o lado compositor do artista fosse notado por gente da indústria. Em 1970, ele assinou quatro músicas do primeiro disco de Tim Maia e ainda é tido como um arranjador informal, por não ter sido creditado, daquele álbum. O Síndico havia voltado dos Estados Unidos impregnado pela música negra americana, e a única pessoa que tinha bagagem suficiente para conversar com ele era Cassiano. "Cassiano tinha esse dom", diz Carlos Lemos, que foi de músico a assistente de produção e depois produtor nessa época. "Ele era muito criativo e teve momentos na gravação que ele cantou a bola de praticamente o arranjo todo. Ele não escrevia, mas sabia o que queria. Praticamente nos três primeiros discos do Tim Maia ele estava junto." Dali em diante, o paraibano despontou numa carreira solo que concentra nos anos 1970 sua fase mais influente. São três discos —"Imagem e Som", de 1971, "Apresentamos Nosso Cassiano", de 1973, e o mais conhecido deles, "Cuban Soul: 18 Kilates", de 1976, que teve duas músicas em novelas da Globo. São elas "A Lua e Eu", o maior sucesso em sua voz, e "Coleção", que há 30 anos virou hit com Ivete Sangalo, na Banda Eva. Lemos se recorda de que chegou a dividir apartamento com Cassiano e outros músicos na rua Major Sertório, no centro de São Paulo, nos anos 1970. O artista estava apaixonado por uma mulher chamada Ingrid, para quem compôs algumas músicas. Era uma época inspirada para o cantor, que em 1975 atingiu sucesso com "A Lua e Eu", produzida por Lemos e feita ao longo de seis meses. "Produzir um disco com Cassiano demorava uma infinidade", afirma Carlos Lemos. "Ele entrava em estúdio, falava que queria assim e assado, chamava os músicos. Quando voltava para o aquário [espaço onde se ouvem as gravações], já tinha outra coisa na cabeça. Era difícil gravar. Você tinha que administrar uma criatividade excessiva. Ele falava ‘isso pode ficar muito melhor’, e realmente ficava. Mas quem tem paciência? A gravadora quer vender logo. Mas era nessa essência que estava a verdade dele —e também seu sucesso." Lemos calcula que, na época em que faziam "A Lua e Eu", deixaram mais de 20 músicas prontas, mais de 500 horas de gravações em estúdio, uma quantidade de fitas suficiente para encher um cômodo inteiro. Procurada pela reportagem desde o fim do ano passado, a Universal, que hoje detém o acervo da Philips, onde essas gravações aconteceram, não respondeu sobre o paradeiro das fitas. O antigo assistente lembra que Jairo Pires, então um dos diretores da Philips, ficava desesperado com essa situação. "Ele tinha um temperamento difícil", diz Pires. "Fora do estúdio, era maravilhoso, um doce de criatura, mas, quando entrava no estúdio, era complicado." Cassiano era especialmente preocupado com o ritmo e a química entre baixo e bateria, com os quais gastava dias e mais dias fazendo e refazendo. Claudio Zoli diz que ele gravava cada parte da bateria separadamente para depois juntar, o que para Ed Motta era "uma invenção da bateria eletrônica antes de ela existir". Lemos conta que Cassiano tinha uma precisão detalhista. "Ele tinha uma visão de matemática forte, de como as frequências combinavam. E era o grande segredo de tudo, porque nem sempre o resultado da sonoridade é o que está na imaginação. Só vi coisa parecida em João Gilberto. E também com Tim Maia —que não respeitava quase ninguém, mas respeitava Cassiano." Outras duas pessoas ouvidas pela reportagem lembraram o pai da bossa nova para falar de Cassiano. Uma delas é Claudio Zoli, que destaca sua qualidade como compositor. O outro é Ed Motta, que foi amigo do paraibano e tentou diversas vezes viabilizar sua carreira. "Ele era o João Gilberto do soul brasileiro", afirma. "Mas, você imagine, um João Gilberto que não é abraçado pelos tropicalistas. Claro que ele tinha um gênio difícil, mas e a Maria Bethânia não tem?" Cassiano chegou a integrar a mesma gravadora de Bethânia e Caetano Veloso, a Philips, mas no braço da firma dedicado à música mais popular, a Polydor. Lemos, o assistente de produção, diz que o paraibano, na época, era humilde e não tinha rancor, mas não dava tanta importância aos baianos, "porque sua qualidade musical era muito superior à de todos eles".  Capa do álbum 'Cuban Soul: 18 Kilates', de Cassiano, de 1976 - Reprodução "Ainda tinha uma rivalidade interna dentro da Philips, criada naturalmente. Poucos sabem que quem sustentava toda a estrutura da gravadora para os baianos serem os caras eram os artistas da Polydor. A Philips gastava e tinha nome, amava os baianos, mas eles nunca venderam como Tim Maia. Vendiam coisa de 50 mil cópias", diz o produtor. Os desentendimentos com a indústria foram gerando mais problemas com o passar do tempo. Paulo Ricardo Botafogo conta que Cassiano recusava oportunidades de aparecer em programas de TV, dar entrevistas e ser fotografado. "Não sei se foi sacaneado, mas ele era um cara muito fácil de enganar. Era muito puro, quase uma criança", afirma. "Cassiano ganhava dinheiro e distribuía entre os músicos. E imagine o que ele passou. Preto, pobre e nordestino. Ele se achava feio. Chamavam ele de ‘Paraíba’", diz Paulo Ricardo Botafogo. Quando "Cuban Soul" foi lançado, depois das centenas de horas de gravações lembradas por Carlos Lemos, o cantor deixou a gravadora. Há na capa do disco um detalhe que, segundo Botafogo, Cassiano interpretou como uma indireta sutil contra ele —é um espaço entre as sílabas da primeira palavra do título do álbum, deixando um "cu" em destaque. Uma reportagem deste jornal de 2001 retratou a dificuldade de Cassiano para gravar. "Levamos para várias gravadoras, mas nenhuma teve interesse, até por ele estar há muito fora da mídia. Mas sua participação em ‘Movimento’ prova que ele está a mil, numa fase criativa. Ele tem umas 150 músicas no baú", disse William Magalhães na época.  CD com músicas inéditas do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress "Movimento", o disco que marcou o retorno da Black Rio sob o comando do filho de Oberdan, traz composições, arranjos e a voz de Cassiano, como a faixa "Tomorrow". É uma das músicas que a dupla trabalhou em conjunto, incluindo uma gravação dela apenas com o paraibano cantando, além de duas canções já famosas de maneira informal entre fãs e amigos do artista, "Pérola" e "Maldito Celular". Feitas entre 1993 e 1995, foram gravadas como "demo" e nunca lançadas comercialmente. Magalhães já havia tocado teclado e piano com Cassiano alguns anos antes. Foi quando Ed Motta conseguiu convencer um italiano chamado Willy David a bancar um disco do cantor. "Falei que ele era um gênio, o Stevie Wonder brasileiro", diz. "George Benson era amigo desse David e ia participar do disco. Chegou até a ouvir algumas músicas." Eles gravaram as "demos" no estúdio de Guto Graça Mello, no Rio de Janeiro. As fitas em melhor qualidade dessas gravações, nunca lançadas, estariam com David, que nunca mais foi localizado depois de ter ido morar em Cuba. Nem mesmo por Christian Bernard, que o procurou exaustivamente nos últimos anos para seu documentário. Há, no entanto, cópias dessas faixas em qualidade pior com amigos do cantor. "São umas oito músicas inéditas, coisas que ele já tinha guardado por anos", diz Ed Motta. "Não era um disco pronto, mas tinha qualidade de disco." Na segunda metade da década de 1980, Cassiano passava por dificuldades financeiras até para conseguir o que comer. Tinha apenas um violão antigo, de estrutura quadrada, que o pai fez, ainda na Paraíba, e que a família guarda até hoje. Morava no Catete, no Rio de Janeiro, e costumava gravar em estúdios liberados por amigos nas horas vagas —caso da estrutura do músico e produtor Junior Mendes, na Barra da Tijuca.  Violão feito pelo pai do músico Cassiano, morto em 2021 - Eduardo Anizelli/Folhapress Cassiano viveu um breve renascimento artístico na virada dos anos 1980 para os 1990. Ele se casou com Cássia, aprendeu a tocar piano e fez um show lotado no Circo Voador, registrado em vídeo. Gravou também o álbum "Cedo ou Tarde", com um repertório de canções antigas, que saiu pela Sony em 1991 e tem participações de Djavan, Marisa Monte, Sandra de Sá e Luiz Melodia, entre outros. Esse álbum não vendeu tão bem, o que frustrou os planos de gravar material novo, mas, com o sucesso de "Coleção" na voz de Ivete Sangalo, há 30 anos, Cassiano conseguiu comprar um apartamento às margens da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Praticamente não fazia shows e sobrevivia dos direitos autorais que ganhava com suas composições. No início da década de 2000, William Magalhães chegou a viabilizar a gravação de um disco para Cassiano. Diretor da gravadora Regata, Bernardo Vilhena tinha US$ 140 mil para um álbum de Claudio Zoli, que acabou indo para outro selo. Com isso, decidiu redirecionar todo esse dinheiro ao paraibano. "Quando Cassiano soube disso, disse ‘US$ 140 mil é só a luva’", diz Magalhães. "Ele era muito orgulhoso, queria que as pessoas o tratassem à altura que ele se via. Seria o dinheiro para começar a produzir. A gente conseguiria fazer, mas ele recusou por causa dos traumas que tinha da indústria. Quando soube que o dinheiro era do Zoli, ainda se sentiu desmerecido, por ser um discípulo dele. Não tirando o direito dele, mas acho que ele viajou um pouco nesse trauma." Ao longo das últimas décadas, Magalhães diminuiu o contato com Cassiano, mas eles se reaproximaram no fim da vida do cantor. Falaram sobre fazer novos projetos, e o paraibano disse que o líder da Black Rio, que ele admirava por ser um grande músico negro, era uma das poucas pessoas com quem ele aceitaria trabalhar àquela altura. "O que eu posso dizer é que o Cassiano ainda vai dar muito pano para manga", afirma Magalhães. "O dia que a Cássia abrir esse baú dele, eu sou o primeiro da fila." Há muitas razões pelas quais Cassiano não conseguiu deixar uma obra mais volumosa, e elas não têm a ver com o respeito que ele tem até hoje no meio da música. Mas o ícone da soul music brasileira encarava essa devoção com ceticismo. "Mestre é o cacete. Não adianta falar isso. Me bota no estúdio", ele dizia, segundo Cássia, a viúva. "Era assim. Todo mundo pira nas ideias do cara, mas ninguém deixa ele gravar. O empresário André Midani chegou a declarar que as gravadoras devem um disco ao Cassiano", afirma ela. "Tudo bem, é ‘cult’, é um nicho, mas é um nicho importante e não é tão pequeno assim." O último "não" que Cassiano ouviu de uma gravadora talvez tenha sido nos momentos posteriores à reunião de 2016 com Paulo Junqueiro. Depois de falar à reportagem, o presidente da Sony pediu para marcar uma nova entrevista, em que admitiu ter ouvido o material novo que o paraibano queria lançar e não quis apostar naquelas músicas. A Sony passava por um período complicado, ele diz. Tinha feito uma reestruturação em que perdeu muita gente de sua equipe. "Do que ouvi, não fiquei tão fascinado e, quando pensei em fazer discos inéditos do Cassiano àquela altura, disse ‘não consigo’. Não tinha estrutura financeira nem emocional." Posto isso, ele acrescenta que se arrepende profundamente. "Ajoelho no milho todos os dias. Tive uma oportunidade de ouro nas mãos, de registrar as últimas obras dele, e a perdi. Não tenho nem palavras para pedir desculpas à família, aos fãs e a mim mesmo. Não tenho como ser mais honesto do que estou sendo. Se gostei ou não, foda-se. Se vai vender para caralho ou não, foda-se." Junqueiro se põe à disposição da família para lançar o disco de 1978, diz que tinha seus motivos para fazer o que fez, mas errou. "Se alguém tivesse me contado essa história, eu ia falar ‘olha que filho da puta, não gravou as coisas do Cassiano’. Então, se eu teria essa visão sobre alguém, eu no mínimo tenho que ter essa visão sobre mim também." Hoje, Cassiano vive no imaginário por sua produção nos anos 1970 e pelos fragmentos que deixou espalhados em fitas e memórias. Dizia que fazer música era como o mar —"ondas que vêm e vão, mas nunca estão no mesmo lugar". Os fãs, por sua vez, aguardam uma movimentação das marés que traga para a superfície pelo menos algumas dessas pérolas submersas.

10/05/2025 • 149:21

Funk, Soul, Jazz, Latin, r&b, Brazil, rare groove, world music

03/02/2025 • 148:22

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26/01/2025 • 181:49

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11/01/2025 • 123:27

ARTIST BIOGRAPHY - JON HENDRICKS Jon Hendricks is not only one of the world's favorite jazz vocalists, but is widely considered to be the "Father of Vocalese", the greatest innovator of the art form. Vocalese is the art of setting lyrics to recorded jazz instrumental standards (such as the big band arrangements of Duke Ellington and Count Basie), then arranging voices to sing the parts of the instruments. Thus is created an entirely new form of the work, one that tells a lyrically interesting story while retaining the integrity of the music. Hendricks is the only person many jazz greats have allowed to lyricize their music, for no one writes hipper, wittier, or more touching words, while extracting from a tune the emotions intended by the composer, more sympathetically than Hendricks. For his work as a lyricist, jazz critic and historian Leonard Feather called him the "Poet Laureate of Jazz" while Time dubbed him the "James Joyce of Jive." Born in 1921 in Newark, Ohio, young Jon and his fourteen siblings were moved many times, following their father's assignments as an A.M.E. pastor, before settling permanently in Toledo. As a teen Jon's first interest was in the drums, but before long he was singing on the radio regularly with another Toledo native, the extraordinary pianist Art Tatum. After serving in the Army during WWII, Jon went home to attend University of Toledo as a Pre-law major, courtesy of the G.I. Bill. Just when he was about to enter the graduate law program, the G.I. benefits ran out, and he realized he'd have to chart a different course. Recalling that Charlie Parker had, at a stop in Toledo two years prior, encouraged him to come to New York and look him up, Hendricks moved there and began his singing career. In 1957 he teamed with Dave Lambert and Annie Ross to form the legendary vocal trio Lambert, Hendricks, and Ross. With Jon as lyricist, the trio perfected the art of vocalese and took it around the world, earning them the designation of the "Number One Vocal Group in the World" for five years in a row from Melody Maker magazine. After six years the trio disbanded for solo careers, but not before leaving behind a catalog of legendary recordings, most of which have never gone out of print. Countless singers cite the work of LH&R as an influence, from the Manhattan Transfer to Al Jarreau to Bobby McFerrin. Pursuing a solo career, Hendricks moved his young family to London in 1968, partially so that his five children could receive a better education. While based in London he toured Europe and Africa, performed frequently on British television, and appeared in the British film Jazz is Our Religion and the French film Hommage a Cole Porter. His sold-out club dates drew fans such as the Rolling Stones and the Beatles. Five years later the Hendricks family settled in California, where Jon worked as the jazz critic for the San Francisco Chronicle and taught classes at California State University at Sonoma and the University of California at Berkeley. A piece he wrote specifically for the stage about the history of jazz, Evolution of the Blues, ran an unprecedented five years at the Broadway Theatre in San Francisco and another year in Los Angeles. His television documentary, Somewhere to Lay My Weary Head, received Emmy, Iris, and Peabody awards. Hendricks recorded several critically-acclaimed albums on his own, some with his wife Judith and daughters Michele and Aria contributing. He collaborated with old friends The Manhattan Transfer for their seminal 1985 album, Vocalese, which won seven Grammy Awards. He's served on the Kennedy Center Honors committee under Presidents Carter, Reagan, and Clinton. In 2000, Hendricks returned to his hometown to teach at the University of Toledo, where he was appointed Distinguished Professor of Jazz Studies and received an honorary Doctorate of the Performing Arts. He was recently selected to be the first American jazz artist to lecture at the Sorbonne in Paris, a university established in the year 1248. His fifteen voice group, the Jon Hendricks Vocalstra at the University of Toledo, performed to a standing ovation at the Sorbonne earlier this year. As if perfecting one original art form weren't enough, Hendricks now finds himself happily penning lyrics to some of the world's most beautiful classical pieces. The Vocalstra is currently preparing to give the world premiere of a vocalese version of Rimsky-Korsakov's lush "Scheherazade" with the Toledo Symphony in February 2003. Summer of 2003 will find Jon on tour with the "Four Brothers", a quartet consisting of Hendricks and three of the best-known male vocalists in jazz: Kurt Elling, Mark Murphy, and Kevin Mahogany. Next for Dr. Hendricks is lyricizing and arranging Rachmaninoff's 2nd Piano Concerto, as well as work on two books, teaching, and continued touring with his Vocalstra. He also makes an appearance in the upcoming Al Pacino film, People I Know. http://www.harmonyware.com/JonHendricks/bio.html

07/12/2024 • 112:05

Funk, Soul, Jazz, Latin, r&b, Brazil, rare groove, world music

30/09/2024 • 173:05

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07/09/2024 • 181:55

Blue Note Records Mix

29/08/2024 • 333:20

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23/08/2024 • 143:06

Morei em Londres no periodo 83/84 e essas são algumas das musicas que amava na época.

07/08/2024 • 213:56

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27/07/2024 • 200:40

Streetcorner Symphonies!

27/07/2024 • 270:52

Parliament/Funkadelic Compilation

15/07/2024 • 162:30

NORMAN WHITFIELD composer and producer compilation

14/07/2024 • 197:54

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08/07/2024 • 227:17

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07/07/2024 • 193:18

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06/07/2024 • 228:59

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30/06/2024 • 211:49

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28/06/2024 • 283:36

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24/06/2024 • 264:44

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24/06/2024 • 130:04

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25/05/2024 • 129:26

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22/05/2024 • 372:47

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18/05/2024 • 280:00

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17/05/2024 • 119:42

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06/04/2024 • 259:51

Funk, Soul, Jazz, Latin, r&b, Brazil, rare groove, world music

02/01/2024 • 331:22

Tracklist 1. (00:01:42) Yma Sumac - Un Amor 2. (00:02:47) Yma Sumac - La Benita 3. (00:02:54) Yma Sumac - Clamor (I Won't Forget You) 4. (00:03:10) Yma Sumac - Wambra 5. (00:02:53) Yma Sumac - Cholo Traicionero 6. (00:02:47) Yma Sumac - Kuyaway (Inca Love Song) 7. (00:03:18) Yma Sumac - Waraka Tusuy 8. (00:02:16) Yma Sumac - Amor Indio 9. (00:03:45) Yma Sumac - Goomba Boomba 10. (00:02:15) Yma Sumac - Serenata India 11. (00:05:46) Yma Sumac - Tatia Inty 12. (00:02:15) Yma Sumac - Gallito Ciego (One Eyed Rooster) 13. (00:03:45) Yma Sumac - Sauma (Magic) 14. (00:02:15) Yma Sumac - Llama Caravana 15. (00:02:33) Yma Sumac - Yawar (Blood Festival) 16. (00:02:05) Yma Sumac - Indian Carnival 17. (00:02:56) Yma Sumac - Malambo, No. 1 18. (00:02:51) Yma Sumac - Virgenes del Sol (Virgins of the Sun) 19. (00:06:46) Yma Sumac - Chuncho 20. (00:03:17) Yma Sumac - Mi Palomita (My Pigeon) 21. (00:03:44) Yma Sumac - La Perle de Chira (The Pearl) 22. (00:02:20) Yma Sumac - Ti Solita Te Quiro 23. (00:03:26) Yma Sumac - Huachina (Enchanted Lake) 24. (00:03:00) Yma Sumac - Llora Corazon (Crying Heart) 25. (00:03:23) Yma Sumac - Supay Taki 26. (00:03:10) Yma Sumac - Dale Que Dale (The Worker's Song) 27. (00:03:19) Yma Sumac - Atapura 28. (00:03:08) Yma Sumac - La Pamp y la Puna (The Plains and the Mountains) 29. (00:01:56) Yma Sumac - Gallito Caliente (The Hot Rooster) 30. (00:02:35) Yma Sumac - Hori Canastitai 31. (00:03:21) Yma Sumac - Flor de Canela (Cinnamon Flower) 32. (00:03:20) Yma Sumac - Cueca Chilena 33. (00:03:28) Yma Sumac - La Molina (The Hill Song) 34. (00:03:05) Yma Sumac - Wanka (The Seven Winds) 35. (00:03:59) Yma Sumac - Montana 36. (00:01:35) Yma Sumac - Batanga Hailli (Festival) 37. (00:02:48) Yma Sumac - Five Bottles of Mambo 38. (00:03:44) Yma Sumac - Aullay (Lullaby) 39. (00:01:43) Yma Sumac - Sumac Soratena (Beautiful Jungle Girl) 40. (00:02:17) Yma Sumac - Gopher 41. (00:03:09) Yma Sumac - Hampi (Medicine) 42. (00:03:10) Yma Sumac - Marinera 43. (00:02:51) Yma Sumac - Sansa (Victory Song) 44. (00:03:52) Yma Sumac - Cha Cha Gitano 45. (00:02:23) Yma Sumac - Jungla 46. (00:02:14) Yma Sumac - Nina (Fire Arrow Dance) 47. (00:02:29) Yma Sumac - Shou Condor (Giant Condor) 48. (00:01:39) Yma Sumac - Esjollo (Whip Dance) 49. (00:02:05) Yma Sumac - Carnavalito Boliviano 50. (00:02:57) Yma Sumac - Jivaro 51. (00:03:28) Yma Sumac - Malaya! (My Destiny) 52. (00:03:05) Yma Sumac - Chicken Talk 53. (00:03:00) Yma Sumac - Ripui (Farewell) 54. (00:02:27) Yma Sumac - Llulla Mak Ta (Andean Don Juan) 55. (00:01:51) Yma Sumac - Taki Rari 56. (00:03:41) Yma Sumac - Chuncho (The Forest Creatures) 57. (00:03:10) Yma Sumac - Incacho (Royal Anthem) 58. (00:02:30) Yma Sumac - Wakai (Cry - Chants of the Incas) 59. (00:03:21) Yma Sumac - Bo Mambo 60. (00:03:07) Yma Sumac - Cumbe Maita (Calls of the Andes) 61. (00:03:19) Yma Sumac - Karawi (Planting Song) 62. (00:02:20) Yma Sumac - Ccori Canastitay 63. (00:02:22) Yma Sumac - No Es Vida 64. (00:02:24) Yma Sumac - Witallia (Fire in the Andes) 65. (00:03:09) Yma Sumac - Karibe Taki 66. (00:03:19) Yma Sumac - Xtabay (Lure of the Unknown Love) 67. (00:02:41) Yma Sumac - Monos (Monkey) 68. (00:03:26) Yma Sumac - Panorima 69. (00:03:02) Yma Sumac - Wayra (Dance of the Winds) 70. (00:02:59) Yma Sumac - Mamallay 71. (00:02:35) Yma Sumac - Chaladas (Dance of the Moon Festival) 72. (00:03:20) Yma Sumac - Tumpa (Earthquake) 73. (00:03:19) Yma Sumac - Suray Sunita 74. (00:02:45) Yma Sumac - Accla Taqui (Chant of the Chosen) 75. (00:02:03) Yma Sumac - Zana 76. (00:03:03) Yma Sumac - Ataypura (High Andes) 77. (00:03:19) Yma Sumac - Lament 78. (00:03:06) Yma Sumac - Taita Inty (Virgin of the Sun God) 79. (00:03:11) Yma Sumac - Kon Tiki 80. (00:03:39) Yma Sumac - Montana (Alternate Take) 81. (00:04:13) Yma Sumac - Goomba Boomba (Alternate Take) 82. (00:03:01) Yma Sumac - Amor Indio (Alternate Take)

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