Lyrics
A brisa sopra entre os pedaços do amanhecer,
fustiga as folhas murmurantes do arvoredo insosso,
morde o rosto da menina preparando o almoço,
dobra os corpos que vagueiam na pele e no osso,
procurando a madrugada que já se escondeu.
Se os edifícios riscam fósforos na névoa fria,
a luz do dia não penetra dentro dos casebres,
nas entranhas se transforma entre gritos e febres,
na calçada a meninada pula como lebres,
ensaiando novos passos pra mesma cantiga.
A brisa sopra um ar gelado que dói como íngua,
mas o sabor do café quente nos entrava a língua,
e das cortinas desbotadas do ninho do abutre
vejo o âmago do sonho que a todos nutre:
é um gigante embriagado que caiu do céu.
E quando enfim penso sentir que tudo isso termina
e existe um sol que vai nascer de dentro da neblina,
os pensamentos se despencam num poço profundo,
a campainha me arrebata o sono vagabundo,
é na poesia que se perde que se mede o mundo.
Caetano Júnior
Tratore