Somos o Boi Negro de Parintins!
Era 1913 quando a Parintins antiga viu nascer, nos terreiros úmidos do “Reduto do Esconde”, pelas bandas do Urubuzal, o Boi Caprichoso. Nascido das mãos calejadas de Seu Roque Cid e seus irmãos, Beatriz e Antônio Cid, este era o presente do povo: pescadores, lavadeiras, pedreiros, compadres e comadres. Eram os nossos primeiros brincantes.
De lá para cá, o Boi Caprichoso ganhou os quintais e as ruas, sempre brincando e alegrando a nossa gente pobre, negra, indígena e ribeirinha, refletida na estrela azul e branca da testa do Boi Negro da Ilha, lindo e popular. Sob lamparinas de Seu Lioca e cumprimento da promessa junina, fortalecia-se, aos poucos, uma festança popular que, ao longo das gerações, permitiu que os parintinenses sonhassem outros futuros, tecidos por meio dos saberes e da sensibilidade de nossa gente cabocla, energizada na utopia e na busca de uma imaginada revolução oriunda desde nossa ancestralidade. Nossos artistas populares, com suas esculturas superlativas, ganharam o Brasil e o mundo, tornando a nós, do Boi Caprichoso, os mais aguerridos lutadores da cultura parintinense.
Metamorfoseamos o ritmo tradicional e o ambiente do folguedo em espetáculo capaz de mobilizar multidões e de colocar em cena a louvação à Mãe Natureza, ao passo em que se denunciam as violações dos direitos dos povos da floresta. Valorizamos nossa história de tantas memórias e camadas, diversa em etnias, gêneros, religiões e orientações sexuais. Nossas ruas são galerias vivas de uma arte popular a nutrir e expandir a cultura nacional. Semeamos arte em reinvenções permanentes, refazendo identidades, emoldurando ancestralidades com as demandas atuais que brotam de nossa gente.
O Caprichoso é o bumbá que permanece se nutrindo, em mais de cem anos, nos batuques libertários dos quilombos, em meio a marchas e acampamentos de povos originários, no suor de artesãos locais e nas expressividades dos que ousaram criar aqui, no meio da Amazônia, as estruturas gigantescas que nomeamos em nossos saberes-fazeres de ousadia.
Seguiremos sustentando, em mais de 50 edições do Festival Folclórico, com nossos artistas do Boi-Bumbá Caprichoso, que a função máxima de nossa festa é bradar a todos os cantos a luta dos homens e das mulheres da floresta, transformando nossos anseios e sonhos em luta: luta em poesia na chama viva da cultura popular do Boi Negro de Parintins!