Para começar a contar essa história, eu poderia dizer que Toni Ferreira é o melhor cantor de blues que ouvi por essas bandas nos últimos muitos anos. Cantor e compositor, aliás: foram escritas por ele, por exemplo, a letra e a música do blues “Reflexo de nós”, a sexta faixa de “Toni Ferreira”, esse seu álbum de estreia. Ela explica muita coisa.
Acontece que ele não é um cantor de blues. Não só isso. Toni Ferreira é um músico de espectro amplo, temperado pela noite, pelos clubes e bares em que tocou. Graças a essa estrada, seu som consegue dialogar com as mais diversas linguagens, com a música que reverbera em estados de espírito variados, extremos até. Ele sabe transitar entre a claridade e o breu.
Toni está nessa viagem há bastante tempo. Muito antes das primeiras gravações oficiais – em projetos coletivos como o “Sarau” (2012) ou em aparições especiais, como a que fez no “Multishow ao Vivo” (2010) da amiga Maria Gadú –, ele já frequentava ativamente o circuito de música do eixo Moema, Vila Mariana e Vila Madalena.
Mas a relação com a música começou em casa. O primeiro professor nessa escola de ser artista foi o pai, que tocava em duas bandas. Uma de repertório autoral, a Bicho Preguiça. E outra em que fazia cover do Kiss.
Toni conviveu com as duas situações.
Carregava os instrumentos e ajudava a montar o palco da banda cover metaleira. Mais do que isso, fazia a maquiagem no pai, copiando direitinho a “máscara” do baixista do Kiss: o rosto todo pintado de branco, os lábios e os olhos pretos, como duas aranhas gigantes.
Dessa experiência veio o aprendizado cênico, a intimidade com o público e com o palco. Com a banda autoral paterna, entendeu um bocado do que era ser um músico. Exercitou isso. Passava as tardes e noites com os amigos mais próximos tirando, nota por nota, todo o repertório da Bicho Preguiça.