Show cover of Sujeito Cindido

Sujeito Cindido

Podcast dedicado a refletir sobre questões relacionadas às subjetividades, trabalho e outras questões relacionadas à cultura, sendo apresentado por Monique Nascimento. Monique Nascimento é doutora e mestra pela Universidade Federal de Santa Catarina, psicanalista e pesquisadora.

Músicas

Quando as coisas parecem não se encaixar, a vida aparenta não fluir e, especialmente, alguns sinais de um mal-estar bem especifico começam a surgir, daí nasce a ideia de buscar por esse tratamento bem particular, no qual a palavra é privilegiada, ou seja, vai-se ao analista para falar, para colocar em palavras o que aflige qualquer ser humano. Comumente as queixas iniciais se derivam de dificuldades no amor ou no trabalho, ainda que as vezes elas surjam nos dois campos. Os psicanalistas Leandro dos Santos e Monique Nascimento, a partir de suas experiências clínicas, falam sobre as principais razões pelas quais as pessoas têm batido na porta dos seus consultórios. Convidado: Leandro dos Santos - Psicanalista, mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (2011).

27/12/2023 • 62:02

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência é caracterizada como uso intencional de força física ou de poder, através de ameaça ou da prática da violência em si, contra si ou contra um outro, que resulta em sofrimento, morte, dor, danos psicológicos, dentre outras consequências. Neste grande contexto em que se insere a violência, há o auto abuso, caracterizado por atos violentos contra si, sendo a automutilação um de seus exemplos. Em uma compreensão próxima da psicanálise, é possível que se entenda a autolesão como algo relacionado com a produção de atos que produzem respostas contra a angústia que não consegue ser simbolizada, conduzindo o sujeito a recorrer ao corpo como fonte de alívio da angústia. Nesse sentido, as mutilações (ou marcas corporais) podem ser compreendidas, então, como balizas identitárias; não apenas como uma metáfora para o sentimento, mas também como uma forma de inscrever os limites na pele, a fim de reorganizar o sujeito. Para discutirmos esse tema, contamos com a companhia da psicóloga e psicanalista Msc. Thais Leite.

28/09/2023 • 67:53

Na psicanálise, a família é compreendida como o primeiro núcleo estruturante e socializador da criança; entidade fundamental para alicerçar as bases identitárias do indivíduo. Assim, o inconsciente do infante se configura na família e em sua complexa e delicada rede de tramas geracionais e inúmeras determinações inconscientes, colocadas não só pelos genitores, mas também pelos pais e avós de cada um destes. Como isso, a maternidade e a paternidade não dependem do ato biológico de tornar-se pai ou mãe, mas de ocupar esses lugares e papéis simbólicos para uma criança, colocando-a no lugar de filho. Não fosse dessa forma, as adoções de crianças seriam impossíveis. Em casos de família monoparental, onde apenas um dos membros, em geral a mulher, do casal parental está presente, ambas as funções podem estar presentes no mesmo sujeito, ou até mesmo, a função paterna pode estar referenciada a um terceiro, para além da relação do sujeito infante com a mãe. Frisa-se que os discursos preconceituosos/de ódio reforçam discursos e práticas violentas. Mesmo entre analistas tais discursos podem ser observados. Nesse sentido, retomando-se Quinet, reforça-se “O psicanalista não pode ser preconceituoso e deixar-se contaminar pela moral, religião ou discurso da ciência que foraclui o sujeito. A psicanálise é antirracista, pois admite que o estrangeiro habita o âmago de cada um e o diferente (heteros) é parte de si. Cabe ao analista fazer entrar a consideração pelo gozo do sinthoma, com sua singularidade, no discurso de sua polis. E no espaço público e no privado, trazer a política que sua prática ensina”. Thiago é psicólogo com percurso psicanalítico, coordenador de serviço de atenção à famílias em situação de violência e risco social em Campinas, Professor universitário. Mestre pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

08/09/2023 • 69:53

Fibromialgia - Entendida como experiência sensorial e emocional desagradável, a dor é considerada tradicionalmente um sinal, sintoma, que alerta para a ocorrência de lesões no organismo. No entanto, são numerosos os exemplos de dores corporais sem base fisiológica observável. O diagnóstico e o tratamento da dor crônica têm mobilizado profissionais de diferentes áreas e é uma das razões de procura por atendimento médico e afastamento do trabalho. As síndromes de dor crônica têm a dor como sintoma principal e são classificadas de acordo com a região acometida, incluindo-se a fibromialgia. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, essa síndrome acomete 8% da população, sendo a maioria dos casos observado em mulheres. Nela prevalece a dor generalizada em distintas regiões do corpo. Em geral, essas dores são concomitantes a outras manifestações corporais, como cansaço, rigidez muscular, perturbações do sono, alterações no funcionamento do intestino, dores de cabeça e dores difusas e etc. Apesar desse agrupamento de sintomas e da evolução clínica conhecida, até o momento não se descobriu a causa orgânica para a fibromialgia. Além disso, não há resposta homogênea à terapêutica farmacológica e, em muitas situações, a dor permanece mesmo sendo empregados os mais poderosos analgésicos. Em muitos dos casos recorre-se a antidepressivos como possibilidade de tratamento. Para a psicanálise, a dor crônica expõe questões cruciais sobre o corpo e a regulação das pulsões. Diante do enigma de uma dor que faz sua morada no corpo e, tal como o sintoma, se repete e, como a pulsão, insiste; a psicanálise é convocada a intervir, aceitando a abordagem multidisciplinar indicada para seu tratamento. Algumas formulações freudianas sobre a dor são a base da reflexão de alguns psicanalistas que se dedicam ao trabalho sobre esse tema atualmente. Em especial, as que se referem a vicissitudes na capacidade do aparelho psíquico lidar com o excesso que seria próprio da dor. Igualmente em consonância com a proposta freudiana, Leite e Pereira entendem que “A dor marca o limite do eu atravessado por um excesso. Ela erotiza o corpo que arrisca revelar-se como carne crua, reveste o corpo orgânico que tanto horroriza a histérica” (p. 102). Nesse caso, a dor corporal sem causa orgânica indica seu caráter de mensagem a ser decifrada. Revela-se um sintoma freudiano que se relaciona com a história do sujeito, tem um sentido e se oferece à decifração. Nessa direção, alguns autores pontuam a fibromialgia como um fenômeno também psicossomático. Outros, a observam como próxima de manifestações histéricas nos temos hodiernos. Tendo isso em mente, realizamos uma conversa com a Médica Neurologista Letícia Nogueira e a psicóloga Sheila Oliveira, acerca da fibromialgia, com enfoque em seus sintomas, diagnóstico, tratamento e interlocuções com a psicanálise.

04/08/2023 • 69:56

Em psicanálise temos como objeto de estudo algo bastante peculiar. O inconsciente não é observável diretamente, não temos como medir, quantificar, tocar. Nada de errado com isso. Alguns conceitos em ciência também são assim. Trabalhar com abstrações é sempre mais complicado do que com coisas concretas. Uma das formas de driblar essa dificuldade inicial são as analogias e metáforas. Para dificultar um pouco mais, em psicanálise, trabalhamos com fenômenos únicos, irrepetíveis. Existem sutilezas da psicanálise que só fazem sentido para aquela dupla específica, naquele momento singular. Além disso, as leituras em psicanálise tendem a não serem simples. Além da trama conceitual que envolve um conceito específico, temos as peculiaridades do tempo e modo de escrita dos autores que lemos, bem como nossas resistências aos temas. A cada material estudado aprendemos algo novo. Com tantas peculiaridades como podemos estudar psicanálise de uma forma que possamos assimilar conteúdos? Para discutirmos sobre essa e outras reflexões, contamos com a companhia de Sérgio, psicanalista, idealizador do Psicanálise dos Mundos Possíveis.

26/05/2023 • 59:59

Em 1908, Freud recebeu um convite para apresentar discussões acerca da psicanálise na Clark University. No ano de 1909, o convite feito por Stanley Hall foi concretizado. Freud se deslocou à Worcester, por ocasião do vigésimo aniversário da referida instituição, e pronunciou as cinco lições de Psicanálise, inaugurando a primeira exposição sistemática de sua teoria. Momento que foi considerado um marco do reconhecimento de suas descobertas. Cabe mencionar que entre as cinco lições expostas por Freud estão importantes conceitos do arcabouço teórico que envolve a psicanálise, como histeria, resistência e repressão, chistes e atos falhos, sintomas e sexualidade, e, transferência. Lacan (1955/1988), relatou que em um encontro com Jung, lhe afirmou que quando viajava junto de Freud para a série de Conferências na Clark University, Freud teria dito, no instante em que avistaram a célebre Estátua da Liberdade: “Mal sabem eles que eu lhes trago a peste!” Transcorrido mais de um século, a conferência realizada por Freud, a partir de cinco lições, é, ainda, um importante material para aqueles que se interessam pela psicanálise. Inclusive, para aqueles que farão um primeiro contato com a obra freudiana por intermédio delas. A peste segue se espalhando e introduzindo mudanças na posição subjetiva de quem é por ela inoculada e tem seu modo de viver a realidade subvertido a partir de torções subjetivas.

20/03/2023 • 13:27

Em Janeiro comemora-se o Janeiro Branco, com intuito de se chamar a atenção para questões relacionadas à Saúde Mental.    Em conversa com Thiago Lusvardi, discutimos não apenas a ideia de um ano novo como uma tela em branco, mas de um sujeito como tal tela.    Além disso, falamos sobre vida e discursos que legitimam mortes, com foco em minorias e trabalhadores.    Thiago é psicólogo com percurso psicanalítico, coordenador de serviço de atenção à famílias em situação de violência e risco social em Campinas, Professor universitário. Mestre pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

13/02/2023 • 68:57

Muitas vezes se entende a Arte como um campo da cultura e do entretenimento e a Psicanálise como um campo técnico, de pesquisa e tratamento. Contudo, é possível se pensar, inclusive, na existência de aspectos do fazer do analista que se relacionam com a arte, por exemplo: não ficar preso a discursos prontos e reproduzidos sem questionamentos, que é poder escutar o inédito, o que não está dentro dos padrões pré-estabelecidos socialmente, lidar com as transformações, ser sensível às cristalizações e enrijecimentos, questionamentos. E quando um analisante se dá conta dos seus enquadramentos, de sua rigidez, de suas repetições fazendo novas elaborações tentando sair disso, há algo que também se relaciona ao fazer artístico. Para avançarmos nessa discussão, contamos com a presença dos psicanalistas Sônia Lacerda e Rodrigo Silva Sá Pedro, cujas histórias de vida são imbricadas com a arte.

23/12/2022 • 82:05

Em nosso país são registrados mais de 14 mil suicídios todos os anos, com um aumento na incidência em pessoas jovens. Dentre esse número de suicídios, estima-se que 96,8% dos casos estão associados a transtornos mentais, dentre os quais a depressão ocupa o primeiro lugar.  Tendo isso em mente, na companhia do psicanalista Júlio André Damasceno dos Santos, gravamos um episódio sobre suicídio e psicanálise.

25/11/2022 • 64:20

Em Freud, observamos o “amor” – Eros em grego e Liebe em alemão  –  em uma perspectiva ampliada. Amor como o cantado pelos poetas, amor para fim de união sexual. Amor que não se separa do amor a si, ao outro, entre os seres humanos em geral. Amor entre pais e filhos, amizade e, a dedicação a objetos concretos e ideias abstratas. Todavia, segundo o autor, a psicanálise não inovou ao tratar o amor dessa forma “ampliada”, pois, tanto o Eros de Platão quanto o que o apóstolo Paulo descreve em sua carta aos Coríntios sobre amor, o compreendem no mesmo sentido “ampliado”. Em Lacan, observamos que apesar de o amor não ser tema de um de seus seminários, ele perpassa toda sua obra. Para nos aprofundarmos nessa discussão, contamos com a companhia de Humberto Júnior, psicanalista e graduado em psicologia.

08/10/2022 • 47:13

Se tem, com amparo em Freud, que formação do analista é composta pelo tripé: análise pessoal, estudo teórico e supervisão clínica. Sendo a análise pessoal a base dessa formação, mediante a qual analistas em formação têm acesso a um tipo de saber o qual não pode ser acessado por outro meio que não a vivência enquanto analisante. Em Freud, assim como em Lacan, pode-se notar, ainda, a ênfase na não formatação da formação a ponto de se fazer com que ela se aproxime de outras formações profissionais embasadas em um discurso universitário, regido por uma série normatizações que se relacionam a uma ética que não a do desejo.  Apesar dessas considerações que são, de certa forma, de entendimento comum a diversos psicanalistas, a questão da formação tem sido alvo de discussões constantes.  Em vista disso, gravamos  este episódio em parceria com Gleisciane Oliveira, do @descomplicandopsicanalise , e com Fernanda Nóbrega (@fernandanobrega.psi),  com o tema a "formação do psicanalista".

25/08/2022 • 42:28

A depressão enquanto transtorno mental começou a ganhar evidência pós crise de 29 e foi impulsionada pós ascensão do neoliberalismo. Em termos mais próximos da psiquiatria. Depressão envolve anedonia. A incapacidade, amortecimento, neutralização da nossa experiência de prazer. Um sujeito depressivo perde a graça, a sua relação com o desejo. Há uma impossibilidade que o sujeito experimenta diante da vida, diante do seu desejo. A depressão envolve também sintomas corporais, como insônia, aumento ou perda de apetite, sentimento de cansaço, dores no corpo, humor irritativo. Nem sempre é possível associar a depressão a tristeza, existem casos em que a pessoa se auto acelera para evitar o encontro com o vazio. Nos tempos atuais, parece haver um enfoque naquilo que seria “sintomático”, no que as pessoas sentem, e pouco se atenta para a causa, inclusive, quando se fala de depressão. A psicanálise aceita a questão da depressão enquanto fenômeno químico, não faz essa distinção entre subjetividade e questões “cerebrais”. Contudo, não vai na linha da depressão enquanto algo semelhante a diabetes, em que se toma algo para o resto da vida e que mantém a glicemia “na linha”. Como se a questão da depressão não tivesse relação com a forma como se relaciona, trabalha, deseja, fala. Aliás, a depressão congrega fenômenos e etiologias diversos, como trauma, luto, recalque, fobias, situações de dissociação, psicose. Em Lacan pode ser entendida como sintoma não presente, sintoma que deixa um rastro. Em Freud, enquanto inibição, algo que o sintoma que não dá conta – lembrando que no sentido clássico, sintoma seria algo que deriva de um conflito. Maria Rita Kehl, fala de dobradura no tempo. De modos de criação, aceleração, que impactariam a relação com a falta. Hodiernamente, antes que a falta se constitua e que se tenha uma dialética entre desejo e demanda, se tem a oferta. A oferta antecipada tem a ver com o ritmo de troca da falta, Segundo Dunker, lembra mecanismo de consumo. A mãe do futuro depressivo é aquela que não espera a falta e antes oferece. O sujeito seria aquele que antes de entrar na dialética com o desejo e a demanda do outro, renuncia, renuncia o conflito - mudando o destino do afeto - como uma espécie de “defesa” pré conflito (sintoma), defesa por inibição. Em resumo, em psicanálise, diante do conflito o sujeito depressivo transforma seu eu, se inibe. Seria uma maneira de lidar com o mundo não fixando em conflitos, mas inibindo, intensificando, se adaptando ou mudando sua paisagem mental ou aquela que se pode comprar.

28/07/2022 • 04:24

No decorrer da história nacional, mulheres tiveram os principais direitos políticos negados, somente a partir do governo Getúlio Vargas, em 1932, por meio do decreto 21.076, que foi permitido às mulheres votarem ou se candidatarem a cargos políticos. De acordo com o IBGE, mais da metade da população brasileira (51,13%) é feminina, e elas representam, segundo Tribunal Superior Eleitoral, 53% do eleitorado. No entanto, ocupam hoje menos de 15% dos cargos eletivos. Tendo em vista isso, optamos por falar sobre a participação da mulher na política. Para isto, contamos com a companhia de Maria Giovana Fortunato, sanitarista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pós -graduada em gestão de saúde pela FGV, política do interior de São Paulo, vice-presidente do PDT-SP e militante do SUS.

21/07/2022 • 46:33

Ainda que se propague a ideia de que a anorexia é fruto da cultura contemporânea, ela já se fazia presente na antiguidade clássica. Em Freud vemos relatos de casos de sintomas alimentares na obra de 1905. Em Lacan também vemos discussões sobre esse tema e podemos interpretar que crianças, adolescentes e adultos anoréxicos sofrem de um aprisionamento à demanda do Outro e recusam-se a descobrir o que pode significar o ato de comer. Assim, no não querer pensar o que significa o ato de comer há uma condução do sujeito para o que Lacan define como "comer nada". A ação que enuncia "eu como nada", evidenciaria a atribuição ao Outro de um desejo de saber e que é acompanhado por um "Eu estou fora dessa". A anoréxica “come o nada” e se oferece, pela via da identificação, a ser, ela própria, o vazio.

14/07/2022 • 05:03

Neste episódio estaremos dando sequência na nossa discussão sobre carreira. Nosso enfoque será em profissões em que se convive com o crime e com a morte. Freud (1930) nos adverte de que a atividade humana percorre duas direções: a busca pelo prazer e a evitação do sofrimento. Em consonância, Dejours (2012) aponta que trabalhar pressupõe  a vivência de prazer e a vivência de sofrimento. Dejours também ressalta que trabalhadores, comumente, fazem uso de estratégias de defesa com intuito de minimizar ou negar a percepção daquilo que faz sofrer no trabalho. Para o autor, com o tempo essas estratégias tendem a se esgotar e, com isso, pode emergir sofrimento patogênico. Você já parou para pensar em como se dão essas vivências em profissões que convivem com o crime e com a morte? Será que para lidar com tais circunstâncias faz-se uso de estratégias defensivas? Para discutirmos esses e outros questionamentos contamos com companhia de Msc. Arthur William Alvarenga, Perito Criminal do Estado de São Paulo.

24/06/2022 • 22:30

No dia quatro de junho, o Estadão divulgou uma pesquisa que apontou um crescimento de 30% nos afastamentos do trabalho relacionados a transtornos mentais. Somado a isso, em uma pesquisa com 11 países, o Brasil foi apontado como o líder nos casos de ansiedade com 63% dos registros. Tendo isto em mente, optamos por tornar a ansiedade tema de nossa semana. Para isto, faremos aproximações e distanciamentos com o conceito de angústia na psicanalise e discutiremos sobre o tratamento da ansiedade na clínica psicanalítica.

09/06/2022 • 04:43

Ao se autorizar analista, sustentar o tripé da psicanálise e iniciar à clínica junto de um analisando, inúmeras situações são apresentadas e questionamentos tendem a surgir. Dúvidas sobre possibilidades de se manter em termos financeiros com o trabalho na clínica ocorrem. Questiona-se se é válido recorrer às redes sociais e como recorrer a elas. Em virtude desses questionamentos, convidamos Gleisciane Oliveira, graduada em psicologia e psicanalista, para conversar conosco sobre o psicanalista nas redes sociais  Caso queira saber mais, acesse nossa página do instagram @dra.moniquenascimento.

02/06/2022 • 53:55

Em sua obra de 1914, Freud retoma o aforismo de Busch sobre o poeta com dor de dente para falar do recolhimento do interesse libidinal dos objetos de amor por parte do adoecido. Nas palavras de Busch: “A alma inteira encontra-se recolhida na estreita cavidade do molar". Nessa frase, vemos o deslocamento da libido enquanto um importante fenômeno para a discussão de nosso tema. Nos dias atuais, a utilização do termo narcisismo, em referência ao mito de Narciso, se faz presente nas mais diversas formas de conhecimento e de manifestação artística. Nesse sentido, tal palavra tende a não ser estranha mesmo àqueles que não possuem aproximação com a psicanálise e, de modo corriqueiro, denomina-se de narcisista alguém inconveniente, desagradável, que tende a falar muito de si e a vangloriar-se, sobremaneira, de seus feitos. Em psicanálise, narcisismo é um termo de uso relativamente comum em distintas abordagens. No entanto, embora na teoria psicanalítica o conceito seja compreendido como pilar da constituição subjetiva, conforme Miguelez (2007), há uma forte tendência ao achatamento e à sua banalização, reduzindo-o a sinônimo de egoísmo. Além de polissêmica, a noção de narcisismo é apontada por Miguelez (2007) como uma das mais complexas da psicanálise. Ademais, tendo em vista circunstâncias que envolvem o momento em que foi inserida na obra freudiana, os seus diferentes usos e nuances, interpretações, fenômenos abarcados e articulações a outros termos, o autor sugere o uso da expressão narcisismos, ao invés de narcisismo. Caso queira saber mais, acesse nossa página do instagram @dra.moniquenascimento.

27/05/2022 • 07:29

Quando não relacionado a questões fisiológicas, o esquecimento pode ser associado a algumas circunstâncias, falarei de 3: 1) ao ato falho no sentido de um lapso ao que foi lido, dito, escutado. 2) Outra situação associada ao esquecimento remete ao conteúdo dos sonhos. 3) e também o esquecimento de situações que de desprazer ou sofrimento. Todas essas três se relacionam à retirada de um dado conteúdo da consciência por meio do recalque ou repressão.  Lembrando que a repressão atua para que ideias ou impulsos inaceitáveis para a consciência sejam suprimidos, como uma espécie de barreira de proteção. No entanto, esse material reprimido vez por outra eclode no consciente, ainda que de forma contrária a vontade do sujeito, fazendo surgir aquilo que entendemos como retorno do recalcado. Diante disso, o psicanalista trabalha para que em um momento em que o sujeito se sinta preparado para falar sobre eles, esses conteúdos possam ser trazidos a cena psicanalítica e trabalhados. E quando associados às patologias, como se dão os processos de memória e esquecimento? Para refletirmos sobre isso, contamos com a participação da médica neurologista, Letícia Nogueira.

19/05/2022 • 50:38

Em Freud vemos o sonho enquanto um exemplo privilegiado de um processo primário, pois ele é acompanhado de uma diminuição das necessidades físicas e por um desligamento daquilo que possa vir a ser externo. Freud usou os sonhos como ponto de partida para as associações livres que conduziam até as ideias inconscientes que se ocultavam atrás de sintomas e sonhos. Os sonhos retomam impressões de dias anteriores e têm a sua disposição os fatos mais primitivos de nossa infância, que ainda estão latentes em nosso inconsciente. Além disso, conforme afirma Freud, sua essência é a de um desejo reprimido. Contudo, existem processos que dificultam que nos lembremos o conteúdo dos sonhos, bem como que os percebemos sem deformações. Dessa maneira, nem todos os sonhos são possíveis de serem interpretados. Outra importante sinalização a ser feita é que a interpretação dos sonhos envolve alguns preceitos técnicos. Em “Observações sobre a teoria e a prática da interpretação de sonhos” (1923 [1922]), Freud apresenta quatro procedimentos distintos para se analisar os sonhos de analisandos/pacientes/clientes que discutimos neste episódio.

12/05/2022 • 07:08

Sabe-se que, hegemonicamente, a produtividade tem sido a norteadora das ações e práticas no âmbito organizacional. Perpetua-se, assim, perseguições, humilhações e pressões dirigidas a um ou mais trabalhadores como intuito servir de exemplo para os demais membros, de modo que estes alcancem as metas e objetivos estabelecidos pela organização independente do custo humano.  Nessa perspectiva, vivencia-se aquilo que conhecemos por assédio organizacional. Este, por sua vez, compreende um conjunto sistemático de práticas reiteradas, provindas dos métodos de gestão que tem por finalidade atingir determinados objetivos relativos ao aumento de produtividade e à diminuição do custo do trabalho, por meio de pressões, humilhações e constrangimentos aos trabalhadores. Na literatura, vemos como mecanismo peculiar dessa forma de assédio a imposição de metas exageradas ou, até mesmo, inatingíveis ao trabalhador e na determinação de “prendas” para aqueles que não atingem essas metas – que podem ser individuais ou coletivas e ter exigências diárias, mensais ou semanais. Para discutirmos esse assunto, temos a companhia de Dr. Luciana Veloso Baruki, inspetora do trabalho no Brasil, autora do livro “Riscos Psicossociais e Saúde Mental do Trabalhador: por um regime jurídico preventivo”, e idealizadora do perfil @assedionet.

06/05/2022 • 77:17

Você reconhece a frase que dá nome ao título desse episódio? Ela pode ser encontrada na obra “A Interpretação dos Sonhos”, quando Freud menciona que seu trabalho sobre o inconsciente se relaciona com a célebre frase de Itzig, o cavaleiro amador: ‘— Para onde está indo, Itzig? — Não tenho a menor ideia. Pergunte a meu cavalo!’”. Mais tarde, ao desenvolver em “O eu e o isso” aspectos da segunda tópica, Freud tornou a se referir à metáfora do cavaleiro e de seu cavalo para ilustrar a relação complexa que existe entre o eu, e o isso. Usado como adjetivo para designar conjunto de processos psíquicos que não são conscientes – temos, assim, o consciente como um saber que se sabe e o inconsciente como um saber que não se sabe. O inconsciente também é utilizado enquanto substantivo (de forma pejorativa) para se remeter a indivíduos irresponsáveis ou incapazes de prestar contas sobre seus atos. Conceitualmente ele foi empregado pela primeira vez em 1751 e, posteriormente, definido como um reservatório de imagens mentais e uma fonte de paixões cujo conteúdo escapa à consciência. Desse modo, podemos perceber que Freud não foi o primeiro autor a falar sobre o inconsciente, mas foi o primeiro a fazer dele conceito central de seu arcabouço conceitual e abordagem prática. Quer saber mais sobre o inconsciente em Freud, acompanhe nossa discussão.

28/04/2022 • 07:07

O trabalho remoto se tornou uma das principais alternativas para o cumprimento de medidas preventivas voltadas à covid-19 em diversas organizações. No entanto, em muitas profissões cujos trabalhadores não experienciavam rotineiramente esse modelo de trabalho, não foi possível uma transição ou período de adaptação. Frente a isto e ao contexto econômico, político, sanitário e social vivenciados, demandou-se dos trabalhadores investimentos financeiros, subjetivos (afetivos) e temporais que impactaram de diversas formas os profissionais e demais sujeitos envolvidos. Uma das profissões que experienciou esta situação foi à docência em ensino superior dedicada a atividades presenciais. Para discutirmos este tema, contamos com a companhia de @zepka1, professor da FURG e doutorando em administração pela UFSC.

21/04/2022 • 44:19

Em luto e melancolia Freud apresenta discussões que nos permitem pensar o luto em quatro etapas (Dunker acrescenta uma quinta), que possibilitam que esse chegue a um fim espontâneo, por mais doloroso que seja. Isto não significa que nunca mais sentiremos dor ou tristeza por conta da perda da pessoa amada, mas que percebemos que ela ou um traço dela, faz parte de nós e que nos autorizamos a sentir saudades. Além disso, é possível nos distanciarmos da percepção enlutada do mundo enquanto um local pobre e vazio ou, em outros termos, é possível que nossa libido se desloque a outros objetos de amor.

15/04/2022 • 05:32

Você já parou para pensar que sociedade, sujeito e política não são noções/áreas do conhecimento que se encontram fora do campo psicanalítico? Freud demonstra isso no decorrer de suas obras – em especial naquelas tidas como sociais – e Lacan também o faz. Em psicologia das massas, Freud comenta da impossibilidade de dissociar a psicologia social da individual. Em “Mal-estar na civilização”, Freud lança mão de ferramentas psicanalíticas para discutir processos culturais necessários para que os humanos consigam viver em sociedade. Em uma troca de cartas com Einstein, a pedido da Liga das Nações, Freud, mais uma vez, utiliza da psicanálise para refletir acerca de um tema de interesse geral dos povos, nesse caso, as motivações que envolviam as guerras. No que concerne à relação sociedade, sujeito, política e psicanálise em Lacan, pode-se citar como exemplos: O Seminário 16, em que Lacan, ao relembrar uma afirmação de Freud, realiza uma breve aproximação entre o inconsciente e a política; e, O Seminário 17, em que  Lacan, ciente da relevância do discurso psicanalítico na compreensão dos laços sociais, analisa sintomas coletivos de maio de 1968 e pontua que a psicanálise age e, portanto, não permanece alheia à cultura e à política de sua época. Além dessas discussões, outras que perpassam temas como racismo e relações grupais podem ser pensadas a partir da aproximação da psicanálise com teorias sociais. Para discutir esse assunto, no quarto episódio do quadro Perspectivas em Cena, temos a companhia de Lucas Alves, psicólogo, psicanalista e Doutorando em Psicologia pela UFSC (na linha de psicanálise, cultura e política).

08/04/2022 • 57:31

Há no âmbito dos Estudos Organizacionais uma longa trajetória de aproximação com a Psicanálise. No entanto, as abordagens voltadas às psiquês humanas que predominam nesse campo de saber são as behavioristas e cognitivistas. Acredita-se que uma das razões para isso, seja a hegemonia das teorias funcionalistas moldadas pelo management, para realização das análises organizacionais. No que concerne a interlocução Psicanálise e Organizações, existem numerosas abordagens teórico-metodológicas. Situação que evidencia que tais olhares estão longe de serem unificados e estáticos. Com o objetivo de atender às solicitações, na nossa página do instagram @dra.moniquenascimento, discutiremos acerca de usos e contribuições da Psicanálise ao campo dos Estudos Organizacionais.

01/04/2022 • 10:03

Dores crônicas podem se fazer presentes nas vidas dos sujeitos de diversas maneiras. Nesses casos, os sujeitos tendem a ter suas vidas afetadas nas mais diversas esferas, incluindo-se trabalho e psiquê. Ainda que alguns casos possam ter origem em fatores biológicos, lidar ou tratar não deve se limitar a eles. Há que se considerar aspectos psíquicos e contextuais que possam estar associados à dor. Para discutir este assunto teremos a companhia de Marcelo Castro, fisioterapeuta com doutorado na área de ciências do desporto e biomecânica, e, pós-doutorado em ciências do movimento humano. Marcelo é, ainda, proprietário do Labclin, que é uma clínica de fisioterapia integrada a um laboratório de biomecânica.

24/03/2022 • 49:56

Você se sente reconhecido em seu trabalho? Quando faço essa pergunta aos mais diferentes profissionais, a resposta tende a ser: depende. O que à primeira vista pode parecer contraditório para quem espera sim ou não como resposta, coaduna com o entendimento da psicodinâmica por reconhecimento. Na abordagem cujo principal expoente é o francês Christophe Dejours, o trabalho não é considerado, em primeira instância, relação salarial ou emprego, mas sim mobilização subjetiva para responder a uma tarefa delimitada por pressões, que podem ser materiais ou sociais. Além disso, ancorado em Freud, Dejours salienta que trabalhar implica em vivências de prazer e de sofrimento, que são intimamente relacionadas ao reconhecimento do trabalho desenvolvido.

17/03/2022 • 07:20

Você já parou para pensar que inúmeros sujeitos têm sua sobrevivência imediata ameaçada ainda que exerçam alguma função produtiva com retorno financeiro? Os desafios impostos pelo estágio neoliberal do capitalismo na América Latina são muitos, e sua superação é questão de vida ou morte para uma parcela dos trabalhadores latino-americanos. Um exemplo disto é o trabalho de terceirizados e terceirizadas no Brasil, isto é, de trabalhadores e trabalhadoras contratados diante da presença de um intermediário na relação entre trabalhador e a organização que lhe aproveita a força de trabalho. Tais trabalhadores, que experenciam a precariedade em seu trabalho, bem como a “flexibilização de direitos trabalhistas”, estão situados em situações de insegurança generalizada, como àquelas relacionadas a continuidade de seu trabalho e ao recebimento do que lhe é devido para garantia de sua sobrevivência imediata. Ainda que frequentemente, a terceirização esteja associada ao esfacelamento de lutas coletivas, Scherer (2017) lança um olhar acerca desse fenômeno, a partir de Rauber, que possibilita reflexões que podem auxiliar na mitigação destes efeitos deletérios à vida dos trabalhadores e trabalhadoras em questão.

10/03/2022 • 63:20

A conceituação de saúde da OMS, como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, resguarda algumas problemáticas indicadas por Dejours em sua palestra de 1982. A partir de algumas críticas, Dejours propõe quatro observações importantes para se pensar em um conceito de saúde. 1- Saúde de cada sujeito não é algo tomado como receita/manual advindo do exterior; 2-Saúde é algo que se ganha, que se enfrenta e de que se depende. É papel de cada sujeito. 3- Saúde não é um estado estável. Saúde é uma coisa que muda o tempo todo; 4- Saúde é uma sucessão de compromissos com a realidade, e que são passíveis de mudanças, (re)conquistas, (re)defesas que se perdem e se ganham. Após tecer estas e outras observações, Dejours aponta uma sugestão de conceituação em que saúde para cada homem, mulher ou criança é ter meios de traçar um caminho pessoal e original, em direção ao bem-estar físico, psíquico e social.  Mas o que significa possuir esses meios e o que é esse bem-estar? Para saber mais sobre isso, acompanhe nosso podcast.

03/03/2022 • 07:19