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Mais uma cantora? Não, uma Cantora. O diferencial não está apenas no nome artístico, Manaia, entidade da tradição maori, mas no estilo distinto e particular desta carioca de 27 anos que nasceu Bruna Antico Neves, dedicada à música desde os seis anos de idade, com cursos de Arte & Design e técnicas vocais nos Estados Unidos. Multiinstrumentista, compositora e intérprete bilíngue, ela se apresenta ao mercado e ao público com um EP em lançamento digital pela MZA do produtor Marco Mazzola. Duas composições próprias, Birdy Bird e Voodoo, mais uma regravação de A Maçã e a Serpente, de Odair José, em português e inglês, esta com a participação especial de Andreas Kisser, o líder do Sepultura, nas guitarras.
Birdy Bird tem um clima que vai do etéreo ao pesado, guitarras, efeitos, vocais criam um clima envolvente: “É uma música de libertação. Eu era repreendida e finalmente enxerguei que precisava alçar voo. Fui criada numa família católica quadrada e, por muito tempo, fiquei naquela gaiola, até que um dia dei um basta. Não é uma música de amor ao próximo, mas de amor próprio.”
A segunda canção é Voodoo, o termo em inglês usado para a religião de origem africana, em que Manaia solta seu lado rocker numa levada vigorosa com um trabalho primoroso de guitarra distorcida e slide: “Voodoo é raiva pura de um jeito cômico. Eu tenho uma amiga que acusou minha espiritualidade de Voodoo. Fiquei brava claro, e resolvi descarregar e brincar com essa expressão, que tem sua cultura em Nova Orleans, berço das músicas antigas de jazz e swing. Por isso o primeiro verso fala ‘eu viajei pra New Orleans...' Resumindo: é um recado direto pra ela e pra todos que vem com essas acusações”
A Maçã e a Serpente, de Odair José, recebe aqui uma versão rock. Manaia se identificou com a música: “Na época ele era visto como brega, hoje é cult, o que tem tudo a ver comigo, já que eu era reprimida e agora sou a rebelde. Eu fui a uma reunião com o Mazzola para escolher o cover certo. Escutamos muita coisa, mas de primeira eu já sabia que era essa. Ela tem uma letra com sacadas muito boas e com segundas intenções, assim como várias letras minhas. A letra é quase um grito de guerra”, explica. Esta ganhou o reforço de peso de Andreas Kisser, o líder do Sepultura: “Mazzola e o produtor artístico da MZA, Hugo Silva mostraram uma demo da música pro Andreas que, de cara, adorou e topou participar. Ele gravou as guitarras e mexeu no arranjo que é do Rodrigo Campello. Só dissemos ‘se empolga’, Andreas gravou durante a tour deles pelos EUA e enviou pra gente.” Rodrigo fez arranjos e tocou teclados e Renan Martins tocou bateria.
Odair José ouviu a versão dela e escreveu uma mensagem entusiasmada: Olha, surpreso e feliz... é a melhor forma pra definir o meu estado de espírito ao ouvir Manaia nessa canção A Maçã e a Serpente! Gravada por mim no ano de 2000, essa composição do meu irmão Donizete encontra agora uma interpretação forte e jovem nessa produção muito bem pensada pelo o nosso amigo Mazzola. Um trabalho maravilhoso de guitarra do já consagrado Andreas Kisser! Legal mesmo... Valorizou, a música é simples, mas ficou com um toque bem Pop! Parabéns a todos. Odair José.”
Manaia escuta de Adele e seu estilo blues, até Rihanna com um pop mais dark: “Tenho um pé no pop, pop preto como eu falo, uma levada mais alternativa e mais americana, um jeito de escrever mais ácido, mas tudo no ‘quadrado’ do rock. Ando por estilos porque gosto de escutar músicas de todos os gostos. Tem momentos que quero escutar pop, em outros preciso de um rock alternativo, e tem vezes que meus ouvidos querem soul e jazz.
O lado rock de Manaia inclui, além do Sepultura, bandas como as americanas Evanescente e Linkin Park, as nórdicas Nightwish, Sirenia e Tristania, e a holandesa Delain, entre muitas. Em outras vertentes, os americanos Johnny Mercer e Etta James. No lado pop viaja da inglesa Adele a referências mais alternativas como a cantora neozelandesa Lorde e faz experiências como regravações de estilos inusitados com o rock, “uma coisa louca, louca, mas que faz sucesso.”.
A história é bem conhecida quando se trata de uma vocação artística. Desde criança ela queria a música, a pressão familiar por uma profissão que garantisse o futuro a levou a estudar desenho industrial. Em 2007, uma bolsa a levou ao estado americano da Georgia para estudar na Savannah College of Art and Design. Lá concluiu o curso e bebeu na fonte rica da música americana, especialmente o jazz, e começou a compor dentro daquele universo. E passou pela inusitada experiência, para uma brasileira, de cantar o Star Spangled Banner, o hino americano, na final do campeonato de vôlei.
De volta ao Brasil e ao desenho industrial, a inquietação a levou a juntar grana para aprender técnica vocal na Berklee College Of Music em Boston, isso em 2008. Lá estudou maiores e melhores formas de exercer sua grande paixão: o canto. Novamente aqui acabou trabalhando no projeto de construção do palco e da Cidade do Rock em 2013, “uma oportunidade de trabalhar mais próximo da música”, diz ela. Inconformada em construir palcos sem poder subir neles, começou a batalhar oportunidades e conseguiu ir ao estúdio mostrar músicas para Mazzola, que concordou em lançá-la. Foi o segundo contato com o produtor. Quando tinha 15 anos tentou mostrar para ele um repertório autoral, mas não chegou nem a começar porque levou um teclado sarapa, que lhe valeu uma bronca, e as canções eram em inglês, o que lhe valeu outra bronca. Ela teve uma segunda chance e correu tudo bem.
Manaia sabe que o mercado da música se encontra numa fase complicada: “Não está fácil, mas hoje eu não me vejo fazendo outra coisa. Acho que ninguém quer passar 50 anos fazendo algo que não gosta. Mas eu acredito que, se você é capaz, planta sementes boas, acredita em você e faz tudo para ficar melhor sem prejudicar o próximo, talvez ganhe uma estrelinha divina. Eu tenho fé que estou no caminho certo.”.